terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

“Não me passa pela cabeça sair do Porto”

Reinaldo Ventura, jogador de Hóquei em Patins do Porto, fala da sua sua carreira, do sexto lugar conquistado no Mundial e dos seus projectos futuros.

Como é que é jogar num clube como o Porto?

É gratificante, porque estamos a jogar no maior clube português de hóquei. É conseguirmos fazer aquilo que gostamos, num grande clube, que nos dá todas as condições e nós também temos todas as condições para dar tudo aquilo que sabemos ao clube.

E como é viver a conquista do hexacampeonato?


É muito bom! É conseguir ficar na História, tanto do hóquei português, como do hóquei portista. Conseguimos algo que nunca foi conseguido antes e isso é um sonho tornado realidade.

E o hepta? Está no pensamento?

Está a caminho!! (risos) Estamos a tratar disso. Acho que estamos a tentar tudo para o conseguir e no que depender de nós...

Não se sente mais “longe” do clube por estar a jogar fora do Dragão?

Não posso dizer que é a mesma coisa jogar cá, porque não é, como é lógico. Jogar perto do núcleo do Porto é completamente diferente de jogar fora. Fomos muito bem recebidos aqui em Fânzeres, não nos podemos queixar, mas já se sabe que é sempre diferente jogar em casa.

E o público? Acha que apoia realmente a equipa?

Sim! É como eu digo, daqui não nos podemos queixar, porque em termos de condições, em termos de apoio, nunca nos faltou nada. Mas nós temos a experiência do Américo de Sá, em que tínhamos sempre o pavilhão praticamente cheio em todos os jogos e é lógico que temos essa saudade, essa vontade de experimentar o pavilhão novo.

Para si, quais são os melhores clubes do mundo?

Em hóquei, o Porto e o Barcelona, sem dúvida!

Iria jogar para o Barcelona, se surgisse a oportunidade?

(risos) É sempre uma situação a pensar. Mas neste momento é difícil... Eu vou fazer 30 anos, já estou no clube há 18, por isso, na minha opinião, não me passa pela cabeça ir tão cedo, nem sair sequer neste momento.

Que balanço faz da prestação de Portugal no Mundial?

Não foi a melhor prestação. Fizémos tudo para ficar no melhor lugar possível, para ganhar o título, mas não conseguimos... Houve várias situações que correram mal e nós só temos que tirar as ilacções possíveis para isto não voltar a acontecer. Tenho pena de fazer parte da pior classificação de sempre, mas nem tudo pode correr bem, paciência...

Mas também já esteve na melhor...

Sim, mas também tive na pior... É como digo, nem tudo pode correr bem...

Não acha que o facto da equipa ser bastante jovem, dá bastante imaturidade à equipa para jogar num Mundial?

Dá. Eu acho que fazer experiências no Mundial não é o melhor que se pode fazer. Tem que se fazer uma renovação, isso será inevitável. Mas uma renovação só é feita quando os valores jovens são melhores que os valores menos jovens, o que neste caso não aconteceu. Mas isso são opções técnicas e eu só tenho que as aceitar. Fui para lá fazer o melhor possível e olha...

Então, para si, qual foi a melhor equipa do Mundial?
A Espanha, sem dúvida.

Mas por ter ganho ou por tudo?


Por tudo. Também por ter ganho. Mas, na minha opinião, é a melhor equipa.

E o que é que há a mudar para o próximo Mundial?

Ai, isso...(risos) Para já vai mudar o treinador! (risos) Há muitas coisas que terão que mudar. Mas como já te disse, não posso ser eu a dizer o que é que vai mudar, nem o que é que não vai mudar, isso é lógico. Nós só temos é que ser convocados e ir para lá tentar fazer o melhor que soubermos. E irmos de consciência tranquila é o melhor que podemos fazer.

Qual é a sensação de ter sido um dos melhores marcadores do Mundial?

É boa! Isso não é um objectivo, pelo menos para mim. Nunca é, nunca foi, nem nunca será. O meu objectivo é sempre ganhar, porque eu gosto muito de ganhar! (risos) E se conseguir ser o melhor marcador ou o segundo melhor... Mas nem sequer penso nisso quando vou para lá. O que é que adianta ter sido o segundo melhor marcador se ficamos em sexto? Eu penso um pouco assim e não me soube a nada, sinceramente.

Sente-se um jogador que serve de inspiração para os mais jovens?

Eu tenho a noção que, normalmente, os miúdos seguem um pouco aquilo que os séniores fazem, seguem os jogadores dos clubes que gostam, os jogadores da Selecção, na qual eu me incluo,... Tenho noção disso e tento fazer tudo para que os miúdos também sigam um pouco aquilo que eu faço. Tento ter atitudes correctas, não fazer coisas que não devo, a jogar como é lógico! (risos) E é lógico que sou um exemplo.

E como é que um benfiquista vira admirador do Porto?

(risos) Eu infelizmente fui benfiquista por influência dos meus pais. Felizmente, abri os olhos a tempo! (risos) Vim jogar para o Porto muito cedo, com 12 anos, e por muito que não se queira, estar neste clube e não o amar é muito complicado. E quem passou por cá sabe bem isso...

Então pode-se de dizer que ama o Porto?

Completamente!

E que recordações traz do Hóquei Clube de Paço de Rei?

O Paço de Rei foi...foi uma passagem muito ténue de lá, porque o meu padrinho, na altura, era treinador. Foi o meu padrinho, juntamente com os meus pais, que me incutiram este amor que eu tenho pelo hóquei. O meu padrinho era um “eterno apaixonado”, era o treinador, fazia de tudo! Era mecênico, era massagista,... (risos) Fazia de tudo, porque na altura era um pouco assim. E a recordação que eu trago do Paço de Rei é mesmo de seguir o meu padrinho. É mais uma recordação familiar.

Como é jogar ao lado do seu ídolo Tó Neves?

O que eu costumo dizer é que o Tó, para mim, é como um “padrinho”. Foi aquela pessoa que... Como a pergunta de há pouco, das crianças gostarem dos ídolos, dos mais velhos que jogam,... E eu tinha esse ídolo, que era o Tó. Depois de o conhecer, passei a admirá-lo ainda mais, porque ele é uma pessoa “fora do normal”, com umas características fantásticas, tanto como pessoa, como jogador. E eu só tinha que aprender com ele e foi o que eu mais tentei. Absorvia tudo o que ele me dava e tudo o que me dizia e fui juntando as coisas e, felizmente, correu bem.

O que lhe diz “Bassano”?
(risos) Diz-me muito dinheiro!! (risos) Não, o Bassano foi uma hipótese na minha carreira que, eu não posso mentir, vacilei muito. Mas é passado. (risos)

E qual foi uma das situções mais caricatas que lhe aconteceu?

Hum, eu acho que a minha carreira é muito normalzinha! (risos) Não me lembro assim de nada... Quer dizer, a situação mais estranha que já tive foi na altura que era júnior ou juvenil do Porto, já não me lembro bem, e fomos jogar à Póvoa do Varzim. Na altura eu não tinha carro e o meu pai levou-me e eu esqueci-me dos patins em casa! É complicado jogar assim (risos) e tive que pedir lá uns patins emprestados lá a um jogador do Póvoa do Varzim. Eu na altura calçava 39 e o senhor calçava 44. (risos) E eu joguei com umas botas 44! Foi um bocado estranho e complicado, mas lá se arranjou. (risos)

Tem contrato com o Porto até 2008. Já recebeu alguma proposta de outro clube?

Não, para já não. Porque, normalmente, no hóquei, a partir do Natal é que se começa a pensar na próxima época. Provavelmente no próximo mês, ou mais um, dois meses, já terei uma noção daquilo que vai acontecer. Mas é muito complicado que sair do Porto neste momento.

Qual é o balanço que faz da sua carreira?

Tem sido, na minha opinião, mas também sou um bocado suspeito, não é? (risos) Tem sido uma carreira engraçada. Já ganhei quase tudo o que podia ter ganho, falta-me a Liga dos Campeões, mas hei-de ganhar! (risos) De resto, tenho ganho muitos campeonatos, taças, supertaças,... É o que eu digo, na minha opinião, tem sido uma boa carreira, da qual eu me orgulho.

E como é que vê o seu futuro?

Espero que continue a ganhar mais taças e mais campeonatos! (risos) Só espero não fazer nada que estrague a minha carreira. Quero continuar a fazer uma boa carreira, da qual eu me possa orgulhar.

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