terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Um dragão no Dragão

É dia de jogo no Estádio do Dragão. Vive-se o ambiente de derby na cidade Invicta. O campeão Nacional, o Futebol Clube do Porto, defronta o Leixões na 8ª jornada da SuperLiga.


Ao início da tarde, há pouco movimento em torno de Estádio. Como é dia de semana e a maioria das pessoas trabalha, poucas são as que vão cedo para a "arena de jogo". Só se vêem praticamente Polícias.

As grades que definem as entradas já estão colocadas. Os primeiros elementos da claque oficial do Porto, os Super Dragões (SD), chegam e começam a vender alguns bilhetes. Enquanto isso, pessoas especializadas dão os últimos retoques dentro do Estádio. Cá fora, seguranças verificam os portões que definem o acesso dos adeptos às bancadas, onde são registados os bilhetes.

Com o passar do tempo aumenta o dispositivo policial, onde muitos polícias estão à paisana, para que passem despercebidos.

A meio do dia, alguns membros dos Super reúnem-se, aguardando a chegada do líder Fernando Madureira, mais conhecido por "Macaco".

Perto das 16h 30m, o "Macaco" chega e começa a venda dos seus bilhetes. Segundo o próprio, foram pedidos "para este jogo 110 bilhetes, num sector que tem cerca de 2600 lugares", entre os quais 600 são para sócios. "O número pedido depende muito da importância do jogo, mas a média é de 1000 bilhetes".

Até o "Animal" já espera a hora do jogo. Conhecido por estar onde as câmaras estão, este "ícone" do clube foi dos primeiros a chegar.

No "Porta 29", o café do estádio, começa a aumentar o movimento. A venda dos ingressos é muito rápida. "Macaco, arranja aí 8 bilhetes!", "Para mim são 22!". Cada um pede os necessários e, na maioria dos casos, são líderes dos núcleos que querem vender aos seus associados. A claque é constituída por núcleos, que têm o nome de zonas da cidade (como Ribeira, Aleixo, entre outros) e de certas cidades do país, como Amarante, Vila Real, etc.

O telefone do "Macaco" não pára de tocar. Ouve-se sempre a mesma coisa: "(...) no «Porta 29»" , "10 euros... 'tá, até já". E sempre que o pousa, lá toca ele outra vez.

Duas horas antes do jogo, os primeiros adeptos começam a aparecer. Muitos vão à Loja Azul para passar o tempo. Começam-se a ver os primeiros "Stwards", os seguranças de serviço, e há um grande reforço da Polícia de Segurança Pública (PSP). Como as grades já foram fechadas, os adeptos que chegam só se aproximam da zona envolvente do campo de futebol se já tiverem bilhete e depois de terem sido devidamente revistados. Os que não têm ficam na enorme fila das Bilheteiras à espera de comprar.

Como precisa de se ausentar, o "Macaco" pede a um dos seus amigos que está no "Porta 29" para ficar no seu lugar na venda de bilhetes. Entretanto, Sandra, a esposa do líder, chega e é ela que começa a tratar de tudo. Quando o Nando, como muitos lhe chamam, regressa, continuam em conjunto as vendas.

"Davidão" é um dos adeptos que mais fala e, sempre que isso acontece, mostra a crença que tem em Deu7s. Até diz que "as nuvens de gelo fui eu que pedi!". Eram essas "nuvens" que ajudavam a passar o tempo, porque muitos se divertiam a falar disso e de outras histórias que David conta. Muitos consideram-nas "mirabolantes" e, por isso, se divertem tanto.

Fazem-se apostas quanto ao resultado. O 2-0 chega para a maioria, mas "Davidão" vai mais longe e acredita que é Lisandro que marca um dos golos.

O "Animal" chega ao café e exibe, orgulhoso, o seu bilhete. "Oh, já tenho bilhete!! vês, vês, já tenho bilhete!!", diz enquanto mostra a toda a gente. Todos se riem e continuam as conversas que estavam a ter. O tema principal é futebol, nomeadamente os lences do jogo do Benfica. Outro líder, Rui Teixeira, chega, mas ai fim de 5 minutos vai-se embora.

Falta uma hora para o jogo começar. Enquanto os Stwards isolam a área reservada aos visitante, os primeiros adeptos do Porto começam a entrar no Estádio. Vestidos a rigor, sorriem e falam na confiança que tÊm numa vitória azul e branca. No meio da mancha azul, vê-se uma família de vermelho. Eram os primeiros apoiantes do Leixões. Pai, mãe e filho dirigem-se para a porta número 6, exibindo cachecóis da equipa de Matosinhos.

Para se aquecerem na noite gelada, a maioria dos Portistas sai da Loja Azul envergando cachecóis do seu clube. Junto ao relvado, as faixas da claque são colocadas.

No "Porta 29" a confusão é total. Uns querem comer, outros correm para a compra de bilhetes, outros querem simplesmente fugir do frio. Lá fora vêem-se as árvores de taç maneira que nem dá vontade de sair.

Eis que, de repente, entra um grupo de Africanos. Fica toda a gente a olhar. Com o seu sotaque característico perguntam à Sandra se é a chefe de uma associação. Ela ri-se e diz que não.

Sem ninguém contar, à entrada do café começa-se a ouvir música. É o grupo da tal associação que anima os assistentes do jogo. Enquanto isso, outra parte do grupo distribui panfletos que apelam ao fim do racismo.

Faltam 15 minutos para as 19h 45m. O jogo está prestes a começar. O "Macaco" dá os bilhetes a um último grupo de jovens e, juntos, vão para dentro de Estádio. Sandra fica no café a vender os últimos ingressos.

Mal se passa os portões, a emoção começa a aumentar. O nervosismo que antecede o jogo começa a aparecer. O líder dos SD percorre a bancada Sul para verificar tudo. Dois conjuntos de megafones já estão postos em locais estratégicos para que toda a gente possa ouvir o que o Nando diz.

Continuam a entrar pessoas, num estádio que está longe de estar cheio. Na bancada Norte, cerca de 500 adeptos leixonenses torcem pela sua equipa.

Os jogadores "azuis e brancos" fazem o aquecimento, rematando à baliza. Como não há rede a proteger as bancadas, a bola acerta sempre em alguém. Um adepto que está distraído leva uma "bolada" de Lucho González. Todos se riem dele.

A equipa sai para os balneários, e é então que nos ecrãs gigantes é apresentada a equipa titular de ambos os clubes. As maiores ovações são para Helton, Lisandro López e Ricardo Quaresma. Os Super dão os últimos retoques e como não é permitido levar ferros para dentro do estádio por causa da segurança, são aproveitadas canas de pesca para que as bendeiras possam ser erguidas.


O líder dos Super põe-se em cima do muro, de costas para o campo, com o microfone que está ligado aos megafones. Mesmo no9 centro das bancadas, começa a puxar pela claque. As vozes dos mais de mil Super Dragões começam a aquecer e as mão, que estavam geladas, também.

As três equipas entram em campo. Ambas as claques exibem bandeiras e estandartes, cantando pela sua equipa.

O árbitro dá o apito inicial. Ouve-se por todo o estádio as vozes dos apoiantes do Porto, que cantam entusiasmados "Allez Porto Allez".

Logo aos 2 minutos de jogo, há uma falta no lado direito do ataque portista. Os primeiros assobios fazem-se ouvir, por causa da violência da entrada sobre o jogador da equipa dos dragões. Numa espécie de "canto curto", Quaresma faz um cruzamento para a área. Apesar de ter falhado, a equipa azul e branca ataca e isso agrada todos os adeptos portistas, que continuam a gritar pelo seu clube.

Aos 6 minutos de jogo, surge o primeiro golo. Sob o olhar atento de mais de 36 mil pessoas, Lisandro López marca. De pé, todos saltam e festejam, tendo estampado na cara sorrisos que mostram a felicidade. "Davidão" agradece a Deus, completamente orgulhoso de si próprio, depois de ter visto que mais uma das suas premonições tinha sido realizada. Enquanto isso, os Super agradecem ao marcador do golo, entoando cânticos com o seu nome.


Três minutos depois, o marroquino Tarik Sektioui volta a levantar o estádio, ao marcar o segundo golo da equipa da casa. Mais uma vez todos gritam, saltam, mostram o orgulho que têm em ser dragões.

Os SD calam-se um pouco e é então que se ouve os apoiantes do Leixões. Para mostrar que a casa é deles e que estão em maioria, os Super entoam a música que os adversários cantam, adaptando ao seu clube.

Já estamos a meio da primeira parte. O ritmo de jogo baixou, mas nem por isso o líder "Macaco" deixa os seus pupilo baixarem o tom de voz. É então que começam a cantar músicas dedicadas aos jogadores. Lucho González, Lisandro López e Quaresma são alguns nomes que merecem destaque. Rui Moreira, comentador de televisão e um famoso adepto portista aparece nos ecrãs.

"Davidão" grita efusivo para dentro das quatro linhas. Age como um verdadeiro "treinador" que manda a equipa atacar. É como se tivesse a sua própria estratégia.

Finalmente o intervalo. Uns aproximam-se de "Macaco", outros sentam-se a decansar, outros vão ao Bar comer.

O líder afirma que a primeira parte foi "boa" já que o "Porto entrou muito bem, mas depois do segundo golo baixou o ritmo, 'tá só a controlar o jogo".
O grupo que já se tinha feito ouvir frente ao "Porta 29" ouve-se agora dentro do estádio. Destacam-se na bancada Norte por estarem todos de branco. São quem anima os adeptos durante o tempo de descanso.

Mal se vêem os jogadores a aparecer, as primeiras pessoas levantam-se. Os membros da claque saúdam Helton, o uarda-redes do FCP, que na segunda parte defende a baliza mais próxima dos Super.

Enquanto uns vibram e vêem o jogo, outros, comoos Stwards, são obrigados a assegurar que não há violência, por isso ficam o tempo todo de costas para o jogo, observando cada movimento da claque, que é conhecida pelos seus actos violentos.

Ao minuto 70 de jogo, Lucho é substituído. É, então, que se ouve uma das maiores ovações da noite. Todos os "tripeiros", como são conhecidos pelos adversários, gritam pelo jogador, mostrando apoio e confiança.

O Leixões ataca. Sente-se o receio em torno dos adeptos portistas, embora continuem a entoar cânticos de apoio ao FCPorto. Mas estes ficam mais descansados com o terceiro golo do jogo, um "bis" de Lisandro. É então que, efusivamente, cantam por muitos jogadores, como o "Harry Potter" (Quaresma), Raúl Meireles, o estreante Bolati, sem esquecer o presidente do clube, Jorge Nuno Pinto da Costa.

A euforia é tal, que os Super puxam pelo resto de estádio, dizendo "Porto", sendo seguidos pelos restantes adeptos.Num curto espaço de tempo, 36500 pessoas gritam numa só voz o nemo do clube que apoiam. É então que ninguém se apercebe do frio, de tal forma que berram.

Não só orgulhosos do seu clube, mas também da sua cidade, os Super Dragões cantam em uníssono "é a pronúncia do Norte, somos o povo mais forte", erguendo bandeiras e cachecóis.
Três minutos depois dos 90, o árbitro Rui Costa dá por terminada a partida. Visivelmente feliz, "Macaco" faz o seu próprio "julgamento", dizendo que foi um "bom jogo. Jogámos bem.Ganhámos 3-0. Acho que se o Porto apertasse mais um bocadinho podia ter marcado mais um ou dois golos." A sua opinião é a mesma que a dos retsantes adeptos, que sublinham que "foi um resultado bom na caminhada para o título".

As bancadas esvaziam-se num ápice. A claque retira as faixas e sai do estádio. As luzes apagam-se. Fecham-se as últimas portas.

Sem comentários: